7.5.06

Never Let Me Go - Kazuo Ishiguro


Falando em ler, tô feliz que pelo menos agora tô podendo voltar aos poucos para os meus queridos romances. Acho que desde o começo do ano tava sem ler nada de ficção, e resolvi retomar o hábito em Mallorca. Escolhi "Never Let Me Go" (Não Me Abandone Jamais" em português), de Kazuo Ishiguro, que desde o ano passado está na mídia como um dos melhores romances do ano passado.

Pelo que li sobre Ishiguro, ele é mestre em recapturar memórias de infância e retratar todas as nuances mais sutis dos relacionamentos humanos. E aqui ele consegue repetir a fórmula muito bem ao transportar o leitor para um mundo que se revela fascinante para uma criança que está para o descobrir. Mas o que me incomodou um pouco foi o que parece ser falta de atenção com o background que ele escolheu pra situar a história.

A história é sobre três estudantes que crescem juntos numa espécie de internato no interior da Inglaterra. A diferença é que esses estudantes são clones. Ishiguro imagina um mundo onde clones são criados com a única função de doar os próprios órgãos vitais assim que atingirem a idade adulta. Eles jamais saem das instituições que vivem ou se relacionam com pessoas "normais" até os 16 anos (com excessão dos guardiões), e quando saem são como animais enjaulados que de repente são soltos na selva: continuam vivendo em uma prisão mental.

Isso é o que faz o livro ser "unputdownable", como dizem por aqui dos livros que você não consegue parar de ler. Ishiguro te impulsiona a continuar lendo ao levantar uma questão que todos nós uma vez ou outra enfrentamos: o de tomar uma atitude e se rebelar contra aquilo que nos é imposto. Mas não há respostas simples. Kathy, Tommy e Ruth, os três amigos-clones centrais na história quase não procuram alternativas pra vida que levam ou o destino que os espera mesmo as oportunidades aparecendo a todo momento. Ao invés disso, preferem se agarrar às memórias e a solidez de seus relacionamentos, e são gratos por terem tido uma existência plena e rica culturalmente até o momento de começar o inferno das doações.

Mas esse não é um livro sci-fi. Ishiguro não se preocupa em discutir problemas de ética, direitos humanos, ou mesmo ciência. No book club do Guardian, ele explica que já tinha a história mais ou menos formada na cabeça, mas precisava de um background que enfatizasse o que é ser humano e o que significa ter alma.

É um livro bastante interessante e por mais que eu fico feliz por ter lido numa época que eu mesma tenho passado por uma fase de questionamento profundo sobre o que significa viver uma vida rica e plena. Recomendo.

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