23.10.06

Dente do siso

Mudei.

Não, sério, mudei mesmo. De casa, e de atitude.

Ontem acordei com a parte de trás da gengiva doendo e vi que meu dente do siso resolveu dar o ar da graça. Em inglês dente do siso se chama "wisdom teeth", ou "dente da sabedoria", e apesar de toda a dor que desce da minha cabeça e vai até o final do pescoço, não pude deixar de perceber que se for verdade esse nome, o dente veio na hora certa.

Comparada com os 4 últimos anos, essa foi a mudança de casa mais tranquila de todas (ignorem o post anterior). Enquanto em tempos outrora eu passava noites e mais noites em claro me preocupando se 1) ia encontrar o apartamento certo 2) na época certa, 3) se iam aceitar meus papéis, 4) se ia arrumar fiador, 5) se ia ter dinheiro pra pagar o depósito e os subsequentes aluguéis, e 7) se ia ter tempo e energia pra fazer a mudança, esse ano foi tudo feito da maneira mais smooth possível, e o mais incrível, sem a ajuda nenhuma de terceiros. Foi simples assim: um dia acordei, me dirigi ao prédio do lado, e gostei (muito) do que vi. Duas semanas depois imprimi três pedaços de papel e pronto. Peguei a chave e dois dias depois trouxe (bom, J. e D. trouxeram) todas as minhas coisas usando duas malas e duas caixas de papelão. Hoje estou instalada confortavelmente no melhor flat que eu já morei fora do Brasil, completamente stress-free.

Deve ter sido resultado da tal mudança interna sobre a qual eu havia conversado com o C. semana passada. Ele estava comentando o quanto estava se sentindo mais tranquilo e menos preocupado do que sempre esteve em toda a vida, e eu percebi que estava passando pela mesma experiência. "Sabe de uma coisa? Esse ano eu percebi que eu definitivamente não sou e nunca vou ser perfeito e o melhor de tudo - eu não só aceitei como ando curtindo essa idéia," disse ele enquanto limpava o balcão do bar. Eu não pude deixar de dar um sorrisinho compreensivo, do tipo "sei exatamente do que vc está falando", porque eu realmente sabia. Depois de 24 anos de tentativas frustradas, planos que não deram em nada, e expectativas em vão, hoje em dia eu raramente perco um fio de cabelo sofrendo por antecipação.

Foi uma atitude que deve ter se desenvolvido e se enraizado aos poucos depois que meus planos no começo do ano pra depois da universidade - mais uma vez - foram por água abaixo, e eu decidi que pelo resto do ano eu ia deixar as águas rolarem da maneira mais livre possível. E por incrível que pareça, as coisas começaram a acontecer.

"Ah, se eu soubesse que a solução para grande maioria dos meus problemas era simples assim!", falei pro C. Ele fez uma cara de interrogação, mas eu estava tentando explicar que no fim das contas meu problema não eram os planos que nunca se concretizavam. O problema era eu.

Então foi assim que eu parei de me cobrar tanto e passei a prestar atenção no que no fundo, no fundo, eu não queria. Isso mesmo. No fundo, mas não muito no fundo, as coisas não aconteceram porque eu mesma não queria que acontecessem. Simples assim. Reconhecendo isso, foi um pulo pra eu começar a parar de arrumar desculpas pra ser quem eu sou. I am what I am - and most of the time now, I like it.

Hoje continuo sofrendo - mas agora a dor é puramente física.

Bendito dente do siso.

20.10.06

>:/

existem poucas coisas no mundo que eu odeie com força, e uma delas certamente é fazer mudança. Estou mudando de casa e meu sangue está em ebulição. No mundo ideal, toda vez que chegasse esse momento eu pularia num jatinho particular, me mandaria pra um cenário paradisíaco qualquer e esperaria os outros encaixotar, transportar e organizar minha vida de uma casa pra outra enquanto eu tomo mojitos debaixo de um sol forte. Sozinha, porque namorados encrenqueiros e teimosos merecem sofrer.

18.10.06

Imatura, moi?

Well, well. Back to blogging world. Nada de maravilhoso tem acontecido nas últimas semanas - ou talvez meu lado londrino esteja se desenvolvendo com FULGOR nos últimos tempos, o lado cínico-vi-de-tudo-nada-me-impressiona-mais. Incluindo quadros e esculturas de pessoas se masturbando em poses variadas (cortesia da Frieze Art Fair, a maior feira de arte contemporânea da Europa, e diga-se de passagem, a mais divertida - fotos em breve), e Madonna e seu mais novo filhote serem assediados pela imprensa britânica a dois blocos do escritório onde estou temporarimente estagiando. Tá, na verdade eu não VI a dupla em si, mas só de saber de que o circo todo está acontecendo aqui do lado já conta.

E como eu sempre menciono aqui nesse blog, um dia minha vida está de pernas pro ar, no outro, bom, não está mais. Até começar o estágio a três semanas atrás eu estava convencida que tinha voltado repentinamente pra 1998 (minha fase raver, pra quem não sabe). Em três meses percorri a rota de todos os clubs/festas/bares/festivais que eu devia ter ido em um período de três anos e nunca fui - e no final, um ou dois botecos entraram pra lista "permanent hangouts." Obviamente nenhum super-club com mega sound system se salvou, nem festas hypes povoadas por gente-que-vira-o-olho. Ambos certamente não receberão a graça da minha presença EVER AGAIN. A beleza de Londres é essa: você pode se dar ao luxo de evitar sair nos mesmos lugares porque SEMPRE tem outras alternativas.

Mas aí o estágio começou e como diz minha amiga L., entrei pro "mundo dos normais". O que significa acordar as 7 da manhã, enfrentar uma jornada de 1 hora espremida dentro de trens, comer sanduíches em frente ao computador e voltar pra casa as 5.30 mais uma vez espremida dentro do trem, exausta demais pra fazer qualquer outra coisa que não seja grudar a bunda no sofá e assistir Sex and the City (também conhecida como 'a minha novela') até apagar... pra começar tudo de novo no outro dia. Nada excitante. Pela primeira vez em meses eu tenho esperado ansiosamente pelo fim de semana.

Como sempre, continuo procurando por satisfação permanente nos lugares errados, mas cada vez me importando menos se não encontro, até porque "satisfação permanente" é algo que provavelmente não existe. Mas também, como sempre, nunca me canso de tentar me enveredar por novos caminhos pra ver se dessa vez vai, e assim foi que resolvi voltar pra faculdade pra fazer cursos... de moda. Yeap, resolvi tentar transformar meu hobbie de ler a Vogue e peregrinar por lojas de departamento luxuosas em trabalho. Uma decisão pra lááááá de distante da minha decisão do início do ano de estudar/trabalhar com política, mãããããsssss.... Pelo menos agora vou tentar fazer uma coisa que eu gosto de verdad ao invés de tentar fazer o que eu achava que os outros gostariam que eu fizesse. Sinceramente não sei se vai dar em alguma coisa, ou se vai ser mais um nome no meu variadíssimo e longo CV (isso não é bom), mas como diz J., vamo aí.

Other than that... Consegui arrumar energias pra ver o filme Little Miss Sunshine - um retrato hilário de uma família muito parecida com a do meu digníssimo namorado - e terminar de ler a obra-prima que é The Master and Margarita. Você sabia que a música "Love & Destroy" do Franz Ferdinand foi inspirada na cena em que Margarita voa sobre Moscow a caminho do baile de Satã? Wikipedia é tudo.