30.11.05

Life is About Constant Longing

Ainda no assunto do livro abaixo, semana passada no trem li isso na pagina 81:

"As far as friendships and relationships go, I've never gone in for visits and constant phone calls. The daily emotional weather report makes everything bland and cheap. Your feelings can seem so fragile and unlikely, why not keep them strange and beautiful instead of sharing them with anyone who'll listen. I think people should learn to spend more time in their heads, they should come to their own terms."

Eu sou bastante assim. Escritinho do jeito que ta' ali em cima. Eu nao sou de fazer ligacoes diarias, de comprar presentinhos, de narrar minha rotina detalhe por detalhe constantemente. Eu nao consigo dar atencao ou receber atencao demais. Eu tenho reservas de energias muito limitadas e que se esgotam em minutos de uma conversa sem sentido. Eu costumo esperar as pessoas me contatarem ou me convidarem, e dependendo de onde vem o convite, recebo e me jogo de bracos abertos. Mas depois eu preciso engatinhar de volta pra toca, ficar quietinha com meus livros, minhas trilhas sonoras, minhas peliculas, reconstruir minha reserva energetica.

Tem uma palavra pra isso: anti-social.

Obviamente, existem consequencias, e a maior de todas e' quando as pessoas simplesmente cansam de esperar e param de vir atras. Ninguem gosta de pedir o tempo todo. O resultado acaba sendo mais ou menos o que virou a paisagem da minha vida: povoada de pessoas conhecidas e muito interessantes, mas que nao possuem o menor dos lacos emocionais comigo.

Tenho sentido bastante isso nos ultimos tempos. Algumas semanas atras mesmo reconheco que fiquei chocada quando de repente ela comecou a gritar e dar tapas numa mesa (talvez pra reafirmar a forca das acusacoes), dedo em riste e lagrimas borrando a maquiagem.

"Voce nao sabe manter amizades!"

A maioria das pessoas nao reagem dessa maneira 'a minha distancia, mas algumas nao conseguem conter a frustracao. Eu, sendo anti-social, sempre consigo. Nao existe a menor possibilidade de eu fazer uma cena publica, se no final quem vai acabar me ridicularizando sou eu mesmo. Eu tenho um cinismo solido embutido e engatilhado dentro de mim, um mecanismo anti-cliche.

Lembro de ter sido acusada da mesma coisa la' pelos meus 13 anos, quando uma amiga que sempre fazia festinhas em casa e viajava horrores reclamou que eu nunca convidava ela pra um jantar sequer na minha casa ou respondia os cartoes postais que ela enviava. Eu achava que nao tinha necessidade, se a gente ja se via e se falava tantas vezes na escola, na casa dela, na aula de ballet, nas festinhas. Eu ficava grata pelos momentos que passavamos separadas, porque eu podia me desvincular e procurar conhecer um pouco mais sobre mim mesma. Eu, como um ser individual.

Eu nunca achei que as pessoas precisassem estar permanentemente em contato, respirando o mesmo ar, vendo, ouvindo, trocando incessantemente as mesmas informacoes. Certos momentos, em meio a uma festa ou um bate-papo, eu entraria num estado tao profundo de tedio que eu sentia minha garganta dar um no' e meu cranio rachar, liberando minha mente pra um lugar longe, onde felicidade deveria ser inversamente proporcional 'a falta de tedio.

Obviamente, minha amizade com aquela menina nao durou tanto como quase todas as outras nao duraram ao longo dos anos, assim como descobri que mesmo nas capitais mais movimentadas do mundo existe a possibilidade do tedio. So' que agora, ironicamente, ele e' resultado do excesso de momentos de isolamento.

Faltam amigos.

Your Time is Now



Sao poucos os livros que eu tive vontade de reler na vida. Sao tantos os que eu quero ler que eu normalmente acho que vou morrer antes de dar tempo de ler tudo e por isso prefiro nao repetir. Mas uma vez ou outra, rarissimas excecoes cruzam meu caminho - eu diria que em 23 anos, 3 ou 4 desses apareceram - e ai' de-lhe escarafunchar o tal do livro, memorizar paragrafos, sublinhar paginas inteiras, reler, reler, reler. Cold Water, dessa menina Gwendoline Riley, e' um desses. A prosa dessa mina e' tao maravilhosamente minimalista e incisiva, tao contemporanea, que eu tenho vontade de imitar tudo o que ela escreve. Mas o melhor de tudo e' a maneira romantica e apaixonada com que ela representa a frieza e o tedio de Manchester, atraves da rotina repetitiva de uma barmaid que vive de frequentar gigs depois do expediente vende livros e discos nos sebos quando o salario acaba antes do tempo, e cria lacos com os excentricos que frequentam o bar que ela trabalha. E tudo isso faz com que eu me lembre o quao potencialmente romantica e inspiradora a minha rotina cinzenta em Londres pode tambem ser.

29.11.05

blog depression


Ha'. Achei a resposta pro problema da falta de posts por aqui. Alem de S.A.D., ando sofrendo de Blog Depression. E' uma sindrome de humor que afeta blogueiros de todos tipos e idades. Segundo o panfleto, os sintomas sao:

-Perda do tesao pela internet

-Sentimentos de decepcao e auto-critica

-Reclamacoes passivo-agressivas e extensao cada vez maior do intervalo entre posts.

Entre os mais afetados, estao gente como eu - the journalers - ou escrevedores de diarios que de repente se questionam se realmente alguem nesse mundo se importa com questionamentos egocentricos sem sentido. Em alguns casos extremos, a pressao de postar e' tao grande que chega a causar ansiedade severa e resistencia bioquimica (ou esquecer que o blog existe atraves do uso de substancias alteradoras de consciencia.)

A cura? Tirar um break, ignorar estatisticas que revelam um numero cada vez maior de blogs, e largar de ser tao metido a ponto de achar que o mundo sente falta de um diarinho mane' que nem esse.

4.11.05

Winter Blues

Entra ano, sai ano, e eu nunca consigo evitar a crise do inverno. Ando suspeitando de que sofro de S.A.D. ( Seasonal Affective Disorder), ou em bom portugues, "Essa Merda De Inverno Acaba Com Qualquer Humor." Acordar todo dia com ceu cinzento (isso quando nao esta' completamente escuro as 8 da manha), tomar chuva porque a ventania destroi o terceiro guarda-chuva da semana, e ver o dia acabar as 4 da tarde enquanto vc ainda tem zilhoes de coisas pra fazer e nao pode voltar pra casa, deixa qualquer um depre. Ou pelo menos, deixa a minha normalmente bem-humorada pessoa depre.

E nao e' so' isso. Essa epoca do ano e' a mais busy de todas, quando alem de passar frio e tomar chuva, vc anda espremido dentro de trens na ida e na volta, passa o dia inteiro levando bronca e discutindo com os outros porque tem zilhoes de prazos acumulando, fica sem comer direito porque nao da' tempo ou a comida da cantina/area em volta fede, e chega em casa 10 da noite arrasado porque nem tempo da' de sair ou fazer alguma coisa pra se divertir porque no outro dia tem que acordar cedo pra repetir toda a rotina.

Nao e' a toa que a minha vida social e' quase nula. E nao e' a toa que hoje em dia eu venero o sol.

***

Essa semana andei repensando por que em 4 anos "on the move" eu ainda nao consegui achar um canto que eu seja feliz. Uma coisa que eu nunca tinha me dado em conta ate' entao foi que o padrao das cidades que eu morei coincidem. Curitiba, Boston, Londres. As tres tem invernos matadores, sao povoadas de gente fria e esnobe, e sao enormes. Uma mais que a outra, mas ainda assim, pra quem cresceu num vilarejo que nem Balneario Camboriu, todas sao imensas. Por outro lado, as tres sao cheias de atracoes culturais, cheias de gente inteligente e inovadoras, cheias de festas pra tudo que e' gosto, e sou eternamente grata por ter tudo isso ao meu alcance. Mas falta interacao. Falta calor humano. Falta... nao sei o que falta. Talvez seja eu que ando me isolando, que sou fria e esnobe e cinica, que me recuso a ir nas tais festas encontrar gente inteligente e inovadora. Ou talvez seja a falta do sol que me faz querer me enfiar embaixo das cobertas e nao sair mais de la ate' o proximo verao... Nao sei.

So' sei que inverno que vem nao quero mais ter crise nenhuma. Talvez seja a hora de mudar de novo. Dessa vez sem repetir padrao.


***


Por outro lado, so' em Londres vc esbarra na mesma semana com duas lendas do cinema britanico, Mike Leigh e Terry Gilliam, e consegue dedicatorias em livros de dois artistas mundialmente famosos que nem Tracey Emin e Neil Gaiman sao.

So' em Londres vc consegue falar numa conversa que esta' planejando escrever um roteiro / bolar um desenho animado / criar um coletivo artistico, sem parecer pedante/estupido/metido ou sem receber olhares de pena ou choque em troca.

So' em Londres voce chuta paparazzis no meio do caminho pra conseguir ver a Madonna ou o Mickey Rourke entrando no cinema de Leicester Square.


Londres e' RUBBISH, mas ate' que tem seus momentos...