21.1.08

Saudades

This post needs to be in Portuguese, because, unfortunately, "saudade" is a word that doesn't exist in English - and that word means the world to me. 

*

Começou o pânico. 
Toda a vez que eu venho passar férias no Brasil, a última semana vira drama. Pra começar, a última semana nunca é a última de verdade, porque no último minuto do segundo tempo eu acabo trocando a data do meu vôo pra dali 10 ou 15 dias. Não tem como tirar férias em casa por duas semanas quando a sua casa fica espalhada por um território 26 vezes maior que o Reino Unido inteiro. E mesmo assim, algum quarto, alguma "dependência", como se diz, acaba ficando de fora do roteiro. Nunca dá tempo de ver tudo e todos. 

Mesmo que desse, o pânico se manifesta anyway. É o medo de morrer de saudade.
 
Daí hoje, domingo a noite, dia oficial da nostalgia no Brasil, deitei na cama sem sono e sem ressaca e fiquei lembrando de tudo o que já havia acontecido nesse quase 1 mês de férias. Até então eu estava me mantendo maravilhosamente bem, algo inédito nos últimos anos: conseguindo segurar minha cabeça no presente, quase que totalmente, sem reminicências ou antecipações, Carpe Diem na prática (influência, essa, de Sidarta, o livro de Herman Hesse que finalmente, 15 anos depois, resolvi dar cabo - mais sobre, depois). 

Mas aí virei pro J. e falei,  "tô morrendo de saudades de todo mundo já." E ele virou pra mim e soltou essa jóia: 

"A gente vive de saudade."

Eu nunca tinha pensado no quanto essa frase define o que eu sou, o que somos. Do jeito que eu conduzi a minha vida até aqui, meu destino sempre vai ser esse: viver de saudade. De alguém, de algum lugar, de um hábito, de um momento. Tem gente que vive no mesmo local a vida toda, com as mesmas pessoas ao redor, e vez ou outra sente a famigerada dor no peito, o nó na garganta, quando alguém se muda ou morre. Mas eu, eu não. Eu convivo com o tal do Nó desde os meus 10 anos de idade, quando minha mãe saiu fugida do Mato Grosso do Sul pra fazer a vida em Santa Catarina. Foi o primeiro Nó, um dos mais doídos, porque pra trás ficou sangue do meu sangue. Depois, veio a Internet, e os laços (antes do Nó, vem o Laço) foram se espalhando por lugares diferentes: São Paulo, Rio, Curitiba, Brasília... Tudo, claro, gerenciável. Por mais que a distância era longa, tava tudo dentro do mesmo país.

Daí eu inventei de morar fora. 

E a saudade, que com o tempo crescia a olhos vistos, de repente tomou proporções sufocantes.  Se no começo dava pra matar a saudade com um estilingue, agora tem que ser no mínimo com um fusil AR-15. Um sem número de gente e de lugares e de coisas  e de momentos, em 3, 4 países diferentes, milhares de kilômetros, e datas, e cifras sem impondo entre todos nós. 

Se eu pudesse, juntava todo mundo numa bolha quentinha e confortável e carregava comigo. Não posso.

Posso é continuar minha caminhada mundo afora, colecionando mais gente, mais momentos, mais paisagens... e morrendo, aos poucos, de saudades. 

3 comments:

manoela ebert said...

putz, gostei muito do seu texto.
concordo plenamente.
ah, e a frase do J. é muito boa.
bjs

SATAN said...

ai thais... que texto hein?
i'm speechless.

vou guardar... pode?

=*

Anonymous said...

Oi linda,

gostei muito do post...que coño! vc descreve perfeitamente os sentimentos duma grande maioria de nós. Na espanha tem um nome pra este tipo de pessoas: "culos de mal asiento" sei que vc entenderei

Besazo
Fer